terça-feira, 16 de dezembro de 2003

De novo à carga...

Depois de uma longa ausência, justificada pelos melhores motivos, regresso com uma referência a um artigo que surgiu na edição desta semana da revista "U.S News", intitulado "The Jesus Code - Americans may be unique in revising the Christ story to get back to the original human preacher".

É um artigo muito preocupante, mas que só espanta os mais distraídos.
Tudo gira à volta de um romance de Dan Brown, que se está a tornar rapidamente num best-seller, chamado "The Da Vinci Code". Para quem conhece os meandros do mistério de Rennes-le-Château, tudo isto não será novo. Durante largos anos dediquei-me, e ainda o faço, a este mistério. Por isso, livros como o de Dan Brown, francamente, têm um estilo que já me enjoa. Já não se pode mais com as teorias do "segredo que a Igreja ocultou", do Jesus que casou com Maria Madalena, do Jesus que teve filhos, enfim, com a típica lista interminável de hipóteses revisionistas, feitas para causar escândalo, provocar o êxodo em massa dos crentes que ainda restam, e para gerar lucros aos autores e editores.

Dan Brown é tudo menos inovador. Há duas décadas atrás, o trio Michael Baigent, Henry Lincoln e Richard Leigh, autores do explosivo "The Holy Blood and the Holy Grail", avançava com exactamente as mesmas teorias, mas na forma de obra documental, o que é consideravelmente mais grave.
O livro de Dan Brown é um romance. Por isso, o autor pode escudar-se atrás do argumento de que a obra é ficcional.
O enredo, confesso que não o conheço com detalhe, gira à volta do tal segredo que a Igreja Católica ocultou. Na trama de Brown, a protecção e ocultação deste segredo está a cargo do Opus Dei. Como se lê no referido artigo, o "timing" é muito oportuno, numa altura em que os Estados Unidos estão a braços com os escândalos da Igreja Católica norte-americana. Mas não há qualquer base real na trama deste romance, o que o torna muito perigoso para os 4,3 milhões (número de cópias a colocar à venda) de potenciais compradores pelo mundo fora.
Insinua-se gratuitamente que a Igreja Católica é um covil de farsários, que se dedicam há 2 milénios a uma profunda e sofisticada fraude sobre a pessoa de Jesus. Ainda bem que surgiu o cérebro evoluido do senhor Dan Brown para, finalmente, depois de 2 mil anos de enganos e ilusões, ser detectada esta grande fraude.

Bem sei que estamos a falar de um romance, mas este deveria ganhar um prémio de subtileza. As hipóteses usadas por Brown na sua trama são tão subtis como um elefante numa loja de cristais.

Ao longo dos próximos dias regressarei a este tema, visto que considero o livro de Dan Brown tão perigoso que nunca será demais falar sobre o assunto. Até porque este best-seller será eventualmente publicado em português dentro de pouco tempo.

Para terminar, um aviso: o já velhinho livro de Baigent, Leigh e Lincoln foi recentemente reeditado em português. É uma obra a evitar, a não ser pelos interessados no pitoresco universo alucinado criado pelos seus autores. Trata-se de uma obra cujos danos intelectuais demorarão décadas a recuperar. O recente livro de Dan Brown piora, obviamente, ainda mais esta triste situação.

Concordo com o U.S. News, "americans are unique". Então em matéria de religião...

Bernardo