sexta-feira, 5 de março de 2004

"A superstição da Ciência"

La Superstition de la Science é um dos capítulos do livro Orient et Occident (1924), de René Guénon.

Seria excelente se todos aqueles que trabalham no âmbito das ciências modernas tivessem conhecimento da obra de Guénon. Deixo aqui alguns excertos:

"Il est assez étrange, dira-t-on, de mettre la raison au-dessus de tout, de professer pour elle un véritable culte, et de proclamer en même temps qu'elle este essentiellement limitée; cela est quelque peu contradictoire, en effet (...) Nous aussi, nous disons que la raison est bornée et relative; mais, bien loin d'en faire le tout de l'intelligence, nous ne la regardons que comme une de ses portions inférieures, et nous voyons dans l'intelligence d'autres possibilités qui dépassent immensément celles de la raison." - pág. 47, op. cit.

Assim, nada mais contraditório que:

1. Admitir que a razão é limitada;
2. Colocá-la nos píncaros das capacidades intelectuais do ser humano.

Concordando com o primeiro ponto, verificamos que os problemas começam com a afirmação do segundo ponto, que se tornou num dos dogmas modernos, o "racionalismo".

A limitação do conhecimento, imposta pela própria característica limitada da razão humana é, sem que muitos cientistas o suspeitem, a razão de ser da postura "sistemática". Toda a construção sistemática traz, em si, uma limitação intrínseca, a de ser um "conceito fechado". Regressemos às palavras de Guénon:

"Cet esprit de négation, ce n'est pas autre chose que l'esprit systématique, car un système est essentiellement une conception fermée; et il en est arrivé à s'identifier à l'esprit philosophique lui-même, surtout depuis Kant, qui, voulant enfermer toute connaissance dans le relatif, a osé déclarer expressément que «la philosophie est, non un instrument pour étendre la connaissance mas une discipline pour la limiter», ce qui revient à dire que la fonction primordiale des philosophes consiste à imposer à tous les bornes étroites de leur propre entendement." - pág. 48, op. cit., Guénon cita Kant da obra Kritik der reinen Vernunft ("Crítica da Razão Pura").

Assim, o próprio Kant já está a explicar o trabalho filosófico como uma forma de limitar o conhecimento, mais do que o aumentar. Que postura tão diametralmente oposta da filosofia clássica!

Bernardo

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