quarta-feira, 7 de julho de 2004

Desabafos sobre a "religião do Diabo"...

Há coisas surpreendentes!
Então não é que um artigo do Timóteo Shel gerou, há pouco tempo, mais de uma centena de comentários, numa acesa discussão de crentes versus ateus?

Desta vez, os papéis inverteram-se... Era o Pedro Fontela quem defendia (sozinho) a equipa do "Diário de uns Ateus". E, sozinho, era zurzido por aquela boa gente toda!

Gostei do debate, e gostei de ter tanta gente tão clarividente e sensata a defender a causa dos crentes, dando assim umas salutares "palmadas" ao Pedro Fontela. Aposto que o Pedro descobriu muita coisa nova que nem suspeitava que existia...

Uma dessas coisas que o Pedro Fontela descobriu pela primeira vez foi a obra do filósofo brasileiro Olavo de Carvalho. O Marcus Pimenta citou uns quantos textos do filósofo, textos esses bem a propósito, que são tão claros quanto conclusivos face a uma série de falsas questões nas quais os nossos amigos do "Diário" tanto insistem.

O Olavo de Carvalho tornou-se, assim, numa pedra no sapato do Pedro Fontela. Não sei como vai ele tirá-la de lá... Porque as palavras de Olavo revestem-se de uma sobriedade, de um rigor linguístico, de uma cultura filosófica, e de uma precisão demonstrativa que torna as coisas complicadas para estes nossos amigos anti-católicos.

Um dos meus arqui-inimigos dessas bandas é o André Esteves, feroz ateu, que há pouco tempo me confessou que gostava dos satanistas. E como essa tirada veio tão a propósito do artigo do Timóteo! Essa "religião do Diabo", que é a dos ateus ressaibiados, é (apesar de eles negarem) uma forma de crença bastante cega pelo preconceito, e sobretudo pela ignorância generalizada e desconcertante face a tudo o que cheire a religião.

Neste momento, estarão o Pedro Fontela e os seus amigos a pensar: "de onde veio este Olavo de Carvalho"? Pois, meus caros, isso é o problema de quem se mete a falar sobre assuntos que não domina!

O rigor e o cuidado que apresentam muitos dos textos de Olavo de Carvalho, tem, julgo eu, uma forte e benéfica inspiração do trabalho de René Guénon, e de outros elementos importantes da corrente tradicionalista que rejuvenesceu o panorama intelectual do século XX (Schuon, Burckhardt, Nasr, Coomaraswamy, entre outros).

Repare-se que não estou com isto a assinar por baixo tudo o que Olavo escreveu ou disse. Estou apenas a dizer que, tendo ido beber à obra de René Guénon, Olavo encontra-se numa posição solidíssima, e é portanto natural que ele tenha escrito textos de uma clareza e de uma clarividência que surpreenda o comum ateu.

Meus caros ateus do "Diário", a realidade, infelizmente para o ateísmo, é BEM mais complexa do que vocês a vêem... Mas isso já se topava a milhas, bastando ver apenas a forma literalista e infantil como vocês lidavam com os textos sagrados do Islão ou do cristianismo...

Quando pela primeira vez mencionei aqui a existência deste reduto de ateus bloguísticos, afirmei que eles pareciam sofrer de uma profunda atrofia intelectual. A expressão era, sem dúvida, forte. E na altura, retraí-me dela. Mas não posso deixar de afirmar que, decorridos já vários confrontos em que se fez ver a estes senhores que o Mundo não era a caixa de areia em que eles brincavam (caixa de areia essa desenhada por "gurus" deles como Sagan ou Hawkins, ou Jay Gould), eles continuaram e teimaram em não reconhecer a estreiteza assustadora das suas ideias.

Em vão, eu tentei dizer que o ateísmo até podia ser muito mais do que aquilo que eles estavam a fazer passar! Imagine-se! Eu, a defender que o ateísmo poderia ser melhor do que o deles! Mas cheguei a esse ponto!

Não estou a tentar convertê-los! Acho isso impossível, em virtude da longa devastação intelectual a que estiveram e estão sujeitos (o facto de fazerem um grupo coeso, que se defende dos ataques da Verdade também não ajuda). Estou a tentar torná-los em melhores ateus! Sou atrevido? Imodesto? Caramba, estamos a falar das mesmas pessoas que disseram que ensinavam aos crentes coisas sobre religião que os próprios crentes desconheciam! Então, haverá melhor retribuição ao esforço de melhoria que eles fazem nos crentes, do que contribuirmos nós também para torná-los em melhores ateus? Melhores, intelectualmente dizendo, obviamente...

Agora, convertê-los? Para quê? Vanitas, vanitas...

Se "atrofia intelectual" é termo forte, deixem-me ao menos usar o de "miopia intelectual"! Ao menos, a miopia pode ser corrigida por prescrições oftalmológicas adequadas. Se ainda for a tempo!

Bernardo

P.S.: Caros ateus do "Diário"... Quando é que vocês vão sair da toca, arregaçar as mangas, e enfrentar o touro de frente? Já se sabe que a vossa reacção vai ser a de sempre: ignorar Olavo de Carvalho, ignorar René Guénon, como ignoraram S. Tomás de Aquino, ou Aristóteles. Face ao peso esmagador da erudição e da intelectualidade, o macaco esconde-se... Ou estarei enganado? Teremos ateus à altura?

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