quarta-feira, 14 de julho de 2004

Sobre o politeísmo...

Tenho-me confrontado com alguns ateus que, na sua "imparcialidade" anti-religiosa, não compreendem porque é que Deus havia de ser Uno. Eles recusam Deus liminarmente, sem apelo nem agravo. E como não aceitam qualquer tipo de argumento abonatório da existência de Deus, optam por negar em pé de igualdade tanto o monoteísmo como o politeísmo.

Há dias, tentei explicar a um deles que o politeísmo era um erro. Ao que o dito ateu me retorquiu que, na impossibilidade de provar que Deus existia, era impossível saber se existia apenas um Deus, ou vários deuses!
É surpreendente! Não é possível ser-se mais "imparcial" na recusa de Deus!

Assim, nada como deixar aqui estas palavras de René Guénon, retiradas de um texto sobre o Demiurgo, que foram escritas em 1909, quando Guénon tinha apenas 22 anos:

"Alguns julgaram que deveriam admitir dois princípios distintos, opostos um ao outro, mas esta hipótese está descartada pelo que referi anteriormente. Com efeito, estes dois princípios não podem ser ambos infinitos, porque então se excluiriam ou se confundiriam; se só um fosse infinito, este seria o princípio do outro; e, se ambos fossem finitos, não seriam verdadeiros princípios, já que dizer que aquilo que é finito pode existir por si mesmo, é admitir que algo pode sair do nada, posto que todo o finito tem um princípio lógico senão cronológico. Neste último caso, em consequência, um e outro, sendo finitos, devem proceder de um princípio comum, que é infinito, o que nos leva à consideração de um Princípio único. Adicionalmente, muitas doctrinas que observamos como dualistas, não o são senão em aparência; no Maniqueísmo, como na religião de Zoroastro, o dualismo não é mais do que uma doutrina puramente exotérica, encobrindo uma verdadeira doutrina esotérica da Unidade: Ormuz e Ahrimán são os dois engendrados por Zervané-Akérêné, e devem fundir-se com ele no final dos tempos. A Dualidade é então necessariamente produzida pela Unidade, pois não pode existir por si mesma" - René Guénon, "O Demiurgo", publicado na resenha póstuma "Mélanges", Capítulo I, Parte I - Edições Gallimard, Paris, 1976.

Bernardo

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