terça-feira, 27 de outubro de 2009

"Casamento" homossexual - o triunfo da vontade

O problema não é de "timing", como afirmam os sofistas da praxe. Liga-se a rádio, a televisão, e lá estão eles: "há assuntos mais importantes... não é a altura certa... há que ver as prioridades...". É patético ver gente crescida a fugir ao cerne da questão: têm real repulsa por este tema, mas têm medo de serem vistos como retrógrados, e por isso optam pela fuga.

O problema não é de direitos fiscais ou sucessórios: a amnésia colectiva é o desporto nacional, mas ainda há quem se lembre de que essa questão foi resolvida aquando do vivo debate em torno das uniões de facto, que acabaram por ser metidas na lei. Na altura, não faltaram corifeus para bradar que a questão das uniões de facto não era o "casamento" homossexual encapotado, que era apenas uma questão de legítimos direitos de pessoas que vivem juntas independentemente da sua vida sexual. A quem dizia que a união de facto era o primeiro degrau dessa escadaria que levaria ao "casamento" homossexual é à adopção de crianças por homossexuais, gritou-se: falácia! Falácia!

O problema é de vontade. De pura, despótica e tirânica vontade. Daquela vontade que passa por cima das contingências biológicas, que pisa a razão e o bom senso, que atropela a lógica.

A propósito do triunfo da vontade, brevemente legislado num Diário da República perto de si, veja-se este trecho profético dos Monty Python, retirado do filme Life of Brian. O Stan quer ser uma mulher, e quer que o chamem de Loretta. E quer ter bebés...

8 comentários:

Xiquinho disse...

Happy Haloween, Bernardo!

Espectadores disse...

Xiquinho,

O que é isso?

Unknown disse...

O que é isso?

É uma festa pagã e inocente onde as crianças andam à cata de doces sobre a qual o Vaticano achou por bem emitir um comunicado a alertar contra os seus perigosos malefícios :)

Mas talvez estejam apenas preocupados com o excesso de glicose no sangue, admito que sim :)

Espectadores disse...

Xiquinho,

Eu não sou pagão nem tenho particular interesse por paganices. Não faço a mais pequena ideia da razão que está por detrás da inundação de Portugal com o "halloween", uma festa que nunca cá foi celebrada.

Há as razões económicas, é certo, mas eu sou livre de gastar o meu tempo e dinheiro em coisas mais proveitosas.

No meu calendário, dia 1 é dia de todos os santos, e dia 2 é dia de fiéis defuntos. O resto é paródia.

Unknown disse...

Caríssimo Bernardo,

Eu sei que os tempos não andam fáceis para a igreja, mas pude deixar de achar curioso que o Vaticano se preocupe com uma festa como o Haloween, como se não tivesse assuntos mais sérios para se ocupar.

Todos sabemos a especial atenção que a Igreja gosta de dedicar aos mais pequeninos, mas não lhe parece exagerado transformar em festa “anti-cristã, terror, medo e morte”, uma inocente brincadeira de crianças?

E isto ao mesmo tempo que o Bernardo, anda preocupado com o casamento dos homossexuais, como se isso fosse problema que o afecte…

Mas já agora, que estou com a mão na massa, se me permite uma pergunta, falácia porquê?
Por acaso um casal homossexual, por ser homossexual tem menos capacidades de educar uma criança?

A mim, parece-me que não, caso contrário, estaríamos perante um preconceito ainda maior daqueles que o Bernardo acusa o Saramago de ter :)

Espectadores disse...

Xiquinho,

Já lhe respondi o que achava: que o Halloween não tem nada a ver com a nossa cultura, e parece mesmo metido a jeito para gerar mais negócio.

Se me pergunta que mal tem um bando de miúdos a correr à cata de doces, respondo em acordo consigo: à parte das cáries, não vejo mal.

Atira-me à cara com uma crítica do "Vaticano": primeiro, eu não sei quem é o Vaticano. Sei o que é o Vaticano: é um lugar, uma colina em roma. Usado como se fosse uma pessoa ou entidade, não sei do que se trata. Se calhar, refere-se à Santa Sé. Então, agradecia que citasse o texto que tanto critica, senão é complicado eu comentar.

É evidente que há tantas formas de ver o Halloween como há pessoas diferentes. Curiosamente, a raiz etimológica do termo está associada à festa do 1 de Novembro, festa cristã de todos os santos.

Seria complexo resumir aqui a raiz desta tradição, no coração da reforma protestante anglo-saxónica.

Se eu critico alguma coisa no Halloween, criticarei qualquer tipo de procura da re-paganização da socidedade, ou a tendência de alguns usarem o Halloween para a promoção de uma cultura pagã e anti-cristã.

Certamente, não será essa a única motivação por detrás do Halloween. Certamente, há crianças e doces.

E, de novo, à parte do absurdo de essa tradição ser anglo-saxónica, e de não ter nada a ver connosco, não vejo especial mal nisso, para além da patetice de ver portugueses a festejá-la.

Em resumo, duas críticas:

1) a patetice de importar uma tradição que nada tem a ver connosco

2) uma eventual motivação neopagã por detrás de alguns dos promotores deste tipo de festividade (sublinho, "de alguns")

O maior peso motivacional virá, parece-me, da procura de novo negócio.

Abraço

Espectadores disse...

Xiquinho,

«Por acaso um casal homossexual, por ser homossexual tem menos capacidades de educar uma criança?»

1) Não há "casais" homossexuais: por definição, um casal é heterossexual, baseia-se na complementaridade biológica e psicológica

2) Toda a criança precisa de um pai e de uma mãe, mesmo que adoptivos (ou seja, não biológicos): se o ser humano vem em dois "sabores", homem e mulher, é útil ser-se educado com uma forte proximidade a ambos os tipos de ser humano, o feminino e o masculino; basta ver que, mesmo nos casos de separação, a Justiça procura garantir que a criança tem proximidade com ambos os progenitores; critico, pelas mesmas razões, a monoparentalidade da mulher que faz inseminação artificial e procura ter filhos sem um pai presente; é um abuso para a criança, será sempre um abuso para a criança, e é por causa da instrumentalização da criança que estes disparates não devem ser autorizados

3) o sexo homossexual é imoral, ou seja, não é ético; é uma distorção da sexualidade humana, um desvio comportamental; evidentemente, é nocivo para uma criança assistir, todos os dias, à coabitação sexual intuída (mesmo que não presenciada, obviamente mesmo que os "tutores" da criança façam sexo à porta fechada) e a um comportamento errado; a criança ficaria com a ideia errada de que é normal o sexo homossexual.

4) Finalmente, qualquer cultura em interesse primordial em proteger o conceito de casamento como união de sexos complementares, pois é a forma única conhecida de perpetuar a espécie e de garantir a estabilidade da sociedade; uma sociedade que afirma não haver algum mal no sexo homossexual é uma sociedade que não se entende a si mesma e não entende o que a faz existir e sobreviver.

São estas as principais razões.
Pergunta-me se um pseudo-"casal" de homossexuais (dois homens ou duas mulheres) pode educar uma criança?

O quê?
Ensiná-la e educá-la?
Claro que sim, que isso é possível. Mas repare bem, pelas questões que apontei acima, como a coisa falha bem mais atrás de se considerar se tais parelhas são bons educadores...
E depois, a parentalidade não é apenas uma questão de educação: é também uma questão de providenciar um ambiente seguro e estável à criança. O interesse da criança deve estar sempre à frente.

Convenhamos que, no caso da adopção por homossexuais, o que está à frente é a tirania da vontade: querer ter uma criança, mesmo à custa da criança, atropelando as impossibilidades biológicas evidentes do sexo homossexual.

É o síndrome "Loretta", tão bem satirizado pelos Monty Python.

Abraço

Xiquinho disse...

Caríssimo Bernardo,

1) só se for mesmo por definição porque na prática há pessoas homossexuais que independentemente de serem uma minoria não devem ser discriminadas só por o serem. E havendo pessoas há pares de pessoas. Se não quiser chamar casal, chame parelha, para efeitos práticos vai dar ao mesmo, embora me pareça que seja um substantivo pouco cristão, pois não se trata de cavalos que estamos a falar.

2) concordo no essencial, é sempre preferível que a criança seja educada por um casal de sexos opostos, mas isso não significa que automaticamente seja abusivo para a criança se for por um casal/parelha ou whatever, do mesmo sexo. Isto tem a ver com a maturidade e condições das pessoas para educarem as crianças e não com as suas orientações sexuais.
A não ser assim como justificar a existência de milhares/milhões de crianças abusadas e em risco por esse mundo fora? Que eu saiba nenhuma delas é fruto de homossexuais, pelo contrário, são mesmo todas de heterossexuais…

3) imoral só se for na sua cabeça. Por acaso o Bernardo escolheu ser heterossexual ? (presumo que é:) Então porque carga de água as pessoas que não escolheram ser homossexuais devem ser consideradas imorais? Só porque são diferentes? Olhe que as pessoas que acham os gays imorais são exactamente as mesmas que há uns anos atrás achavam os casamentos inter-raciais igualmente imorais. Ninguém escolhe nascer branco, preto, amarelo ou homossexual, pois não?

4) já cá faltava o exagero… nunca o Bernardo assistiu a uma sociedade em perigo de extinção por causa da homossexualidade. Não assistiu, nem assiste, nem assistirá porque sabe perfeitamente que são uma minoria que não apresentam qualquer espécie de perigo para os restantes. Trata-se apenas de uma minoria de pessoas diferentes que merecem o nosso respeito, compreensão e protecção.

Reitero que concordo que a criança seja preferencialmente educada por pais de sexos opostos, mas um casal homossexual não deve ser excluído à partida de poderem ser adoptantes: Tem ideia de quantas crianças estariam muito melhor entregues a casais homossexuais do que muitas vezes aos seus próprios pais biológicos?

Em nada a homossexualidade impede de educar, ensinar e providenciar um ambiente seguro e estável para a criança. Pelo contrário, trata-se até de uma oportunidade de aprender sem preconceitos que existem sexualidades diferentes e são apenas isso mesmo, diferentes, nunca erradas ou imorais.

Abraço retribuído!!!